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Trabalho, trabalho, trabalho...
16/01/2010

Trabalho na Irlanda. Tem que ser assim mesmo: três vezes "trabalho", porque esse é o número de jobs que, teoricamente, eu tenho por aqui. São 2 em 1, aliás, 1 + 2 que parecem ser um. Aff! Bom, trabalhar aqui é mais ou menos assim...

O primeiro emprego

Escrevi o post Vida de Au Pair com todos os detalhes para quem quer ser uma Au Pair também. Esse foi o meu primeiro emprego, pois meu inglês não era lá essas coisas. Bom, Au Pair é uma expressão francesa que ao pé da letra significa "ao par" ou em outras palavras "entre iguais". É a estudante (ou o estudante, pois podem ser meninos também) que vai morar com uma família nativa em outro país em igualdade de condições para aprender um idioma e realizar um intercâmbio cultural. Em troca, a família dá uma bolsa auxílio em dinheiro e a intercambista ajuda com as crianças. Entre outras palavras: babá. Mas sem essa relação de trabalho, com obrigatoriedade de experiência ou conhecimento profundo e técnico que uma profissional tem. A Au Pair deve fazer parte da família.

vida de Au pair na Irlanda
Festinha de aniversário de 6 anos da Charlie e eu e Kai brincando no quartinho dele, em Dublin

Sou Au Pair. Existem várias maneiras de chegar aqui como uma. No meu caso eu tinha uma amiga que morava aqui na Irlanda e era Au Pair também. Eu então me interessei, principalmente porque teria contato direto com o idioma e com a cultura irlandesa. Me aventurei por alguns sites que oferecem vagas até que conheci uma família Irlandesa que precisava de uma pessoa para começar exatamente no mês em que eu chegaria. Fui direto para a casa da Sinead e Howard (um casal de irlandeses que foram uma bênção na minha vida). Me buscaram no aeroporto e me ajudaram nos meus primeiros momentos aqui. Eu cuidava do Kai, um bebezinho lindo que na época tinha onze meses. O bebê mais lindo que já vi na vida... Depois de três meses tive que procurar uma nova família, pois o Howard estava desempregado e eles não podiam me manter em casa. Foi aí que encontrei a família Fleming. Outra benção na minha vida. Desde abril de 2008 moro com eles e cuido da Charlie, uma menininha linda de 6 anos.

O segundo emprego

colegas trabalho irlandaLa Riche. Esse é o nome da empresa do Chris, pai da Charlie. Entrei na família para cuidar dela principalmente, mas também trabalho para o Chris como um segundo emprego. Comecei fazendo notas fiscais e embalando mercadorias, mas hoje realizo outras funções como: controle de mercadorias e envios, análise de documentos, treinamento de novos funcionários e manutenção do site da empresa (lembrei da frase do João Grilo "tá ficando importante", com sotaque bem nordestino)*. Comecei com dois a três dias por semana e hoje trabalho todos os dias (sinto até saudade da Charlie). A LaRiche é uma trade, revende produtos internacionais como cosméticos e diversos outros produtos de saúde e bem-estar. Atende todo o território irlandês e atende as maiores farmácias do país. Antes éramos eu e o Chris. Aos poucos entraram outros funcionários. É gratificante trabalhar com os irlandeses. São muito profissionais, ensino, mas também aprendo todos os dias. Dou parte do "inglês" que tenho ao Chris, com quem tenho contato diário.

Ah, o nome La Riche é um jogo de letras com o nome da Charlie. Criativo, não?

O Terceiro emprego

O terceirão foi dureza. Desde que vim pra cá tive a ideia de procurar emprego nos jornais gratuitos de Dublin (trabalha-se como Merchandiser, distribuindo jornais nas portas das estações e nos principais pontos da cidade). Queria um emprego no jornal porque são somente duas horas e meia por dia, ganha-se relativamente bem pelas horas e principalmente porque o horário de trabalho no jornal, que é beeeem cedo, não atrapalharia a escola e meus outros empregos.

Começando pelo começo, eram dois jornais gratuitos que circulavam pela manhã na capital irlandesa: o Metro e o Herald. Desde o início de 2010 eles se fundiram e agora só existe um jornal chamado "Metro Herald".

Trabalho na IrlandaDesde janeiro de 2009, um mês depois que cheguei aqui, já comecei a procurar emprego em um dos jornais. Ia toda semana no escritório (coitada da atendente) e levava um currículo - nessa época ainda morava em Dublin. Depois me mudei para Malahide, uma vila ao lado de Dublin, portanto não mais procurei emprego no jornal. Aqui na vila só havia um Merchandiser para cada jornal - um deles era uma brasileira. Todas as manhãs a via na porta da estação de trem e sabia que ela não voltaria para o Brasil tão cedo e que não pretendia sair do Metro - a mesma coisa acontecia com o Merchandiser do Herald. Portanto não haviam chances de conseguir o emprego no jornal por aqui. Nem de pleitear vagas em Dublin, pois não havia transporte para o centro tão cedo.

Mas hoje entendo a relação entre os acontecimentos. Um belo dia, a Merchandiser da minha vila resolveu tirar férias. Quando soube, logo corri no escritório para deixar meu currículo novamente. Poderia ser uma oportunidade temporária. No escritório, a atendente me reconheceu - a cara dela de "Ah não! Essa menina de novo não", foi muito engraçada. Também deixei um currículo com a Merchandiser da vila e ela entregou para o meu futuro chefe, que me ligou logo depois dizendo que tinha uma vaga permanente em uma vila ao lado da minha. Decidi encarar... Lá foi Thatiana pedalar 40 minutos todos os dias para chegar ao trabalho. Mas valeu a pena. Fazem oito meses que trabalho no Metro e tenho um novo cargo. Depois de Merchandiser fui Hitsquad, uma espécie de "resolvedora de problemas". Hoje sou Team Leader ou líder do time, em português. Lidero uma equipe de 20 merchandisers ao norte de Dublin. Resolvo problemas... Praticamente um Chapolin Colorado "amarelo" (nosso uniforme é bem amarelo. Entre os brasileiros somos conhecidos como "fandangos". Antes éramos os Smurfs, pois o uniforme era azul. Santa criatividade brasileira, rs).

O quarto emprego

Cheeeeega! Brincadeira, não tem quarto não. Só se fosse de madrugada... As horas que sobram são para a escola que não perco nenhum dia!

Com tudo isso fica difícil parar. E fico feliz. No início pensava em como todos esses empregos iriam me ajudar a viajar (adoro viajar), mas hoje sei que o que mais valeu foi a experiência. Tenho uma outra noção de trabalho. Vejo que é tão bom fazer tudo isso e ser produtiva todo o tempo! No início era muito cansativo, mas nada melhor que a rotina. Ah, e isso tudo no inverno, hein?!? Dureza, mas é valioso, muito valioso... Em casa tenho contato com a cultura do país, realmente vivo na Irlanda! Quando moramos com pessoas da mesma nacionalidade é impossível vivenciar isso. Vejo as diferenças, as igualdades... No trabalho na La Riche aprendo como é trabalhar numa empresa local, tenho contato com profissionais (as vendedoras e funcionários são todos irlandeses) e como funciona esse mundo corporativo Irish que é sim muito parecido com o nosso (inclusive, cá pra nós, o nosso atendimento ao cliente dá "show de bola" ao comparar alguns casos). E, por último, no jornal, aprendo como cada pecinha no mundo é importante. O que seria do mundo sem os jornaleiros, meu Deus?!? Tenho contato com pessoas do mundo todo - trabalhos de subemprego geralmente são feitos por imigrantes em sua maioria. nigerianos, maurícios, angolanos, brasileiros. Tenho até uma merchandiser do Zinbabwe. Onde eu iria conhcer alguém do Zinbabwe?!? Só na Irlanda.

* João Grilo é uma personagem da obra O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

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