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"Fog is a cloud"
01/05/2010

Hoje desci as escadas correndo. Um pé calçado e o outro sapato na mão pronto para calçar. Sentei-me no último degrau da escada, na correria de sempre, para colocar o sapato quando a Charlie parou na minha frente e disse: fog is a cloud (Nevoeiro é nuvem). Achei estranho e engraçado ao mesmo tempo, porque não existia contexto para ela dizer aquilo. Vai saber de onde tirou isso, cabeça de criança é um mistério...

Toda essa semana aconteceram coisas comigo que me fizeram pensar muito na vida por aqui, nos caminhos que escolhi e como cada pecinha desse quebra-cabeça se encaixou para que eu pudesse chegar até onde estou hoje. Devo ter um grande aliado no céu. Hoje, passado algum tempo, entendo a relação entre os acontecimentos. Sabe quando você entende porque aquele negócio ruim aconteceu daquela vez e como isso foi importante para que acontecessem coisas boas? Pois é, e bota acontecimento nisso.

Meu terceiro mês na Irlanda foi complicado. Eu estava trabalhando como Au Pair e vivendo com uma família em Dublin. Eu cheguei no país e fui direto para a casa deles. Foi o meu primeiro emprego e já "cai" com nativos. Tudo diferente, saudade no peito... Passado um tempo meu boss disse que eu não poderia continuar lá, pois ele não havia encontrado trabalho (isso aconteceu bem na alta da crise). Tive 30 dias para encontrar outro trabalho ou outra família para trabalhar como Au Pair. Um pesadelo! Mas depois de 3 semanas encontrei a família com que vivo há um ano e quatro meses. Ganho melhor, aqui tive excelentes oportunidades e a Charlie, essa mesma que disse a frase acima, é o meu tudo aqui. Talvez eu não tivesse procurado outra família caso a minha primeira não tivesse me dispensado. Como diria a Magda daquele seriado Sai de baixo, "Há malas que vão para Belém..."

Bom, falando em males que vêm pra bem, outra história foi quando comecei a trabalhar no Metro Newspaper. Sabe onde Judas perdeu as botas? Pois então, a estação que eu trabalhava era um pouco depois de lá (35 minutinhos de bicileta). Comecei a fazer mil planos com o dindin que ganharia, as viagens que faria, etc. Mas aí começaram as férias escolares e muitos jornais não eram entregues. Foi quando eles decidiram cortar alguns pontos de distribuição e o meu foi um deles. Fiquei muito triste, mas passados 24 horas de tristeza o escritório me liga chamando para um outro trabalho, pois precisavam de alguém que falasse inglês e naquela época não havia ninguém no time (a maioria eram estrangeiros). Eu iria cobrir as férias de uma garota que tinha ido para o Brasil. Sorte minha que ela foi e nunca mais voltou, rsrs. Quando minha estação voltou a operar eu passei a vaga para um amigo muito querido e permaneci no meu cargo de Hitsquad. Então, mais uma vez SE EU SOUBESSE não teria ficado tão triste por 24 horas! Nem era nada...

Uma outra... Foi quando a ponte quebrou. É uma das pontes mais importantes do país e que passa exatamente na vila onde moro. Ela liga Dublin a Irlanda do Norte. Antes eu sempre terminava o trabalho em Malahide e ia de ônibus para a vila vizinha, Swords, onde estudava. Perdia uns 20 minutos de aula todos os dias e ficava arrasada, pois a aula era muito boa. Eu deveria parar em uma outra estação, mais a frente, mas essa estação é exatamente depois da ponte quebrada... Daí não tinha escolha se não chegar atrasada. No entanto, poucas semanas depois minha escola mudou-se para Malahide! Nunca mais cheguei atrasada. "Santa ponte", acho que a única pessoa do mundo que ficou feliz com isso foi eu. Imagina? 400 mil irlandeses prejudicados e uma brasileirinha feliz! Mais uma vez, SE EU SOUBESSE que isso iria acontecer não teria ficado tão preocupada, manipulando e fazendo mil planos para descobrir uma forma de chegar até a escola mais rapidamente. Tentei ir de bicicleta, mas o jeito mais rápido seria mesmo pegar um ônibus o que era mais uma despesa, grande por sinal, já que transporte por aqui está longe de ser barato (mas funciona bem). Enfim, a tal "relação entre os acontecimentos".

Daí, depois de pensar nisso tudo, concordo com a frase desconexa da minha pequena. O que parece um nevoeiro é na verdade algo bem mais simples e precisa acontecer por algum motivo. Tudo dá sempre certo no no final e se não deu é porque ainda não acabou. Aqui aprendi a sempre olhar todos os lados de uma situação, porque ela SEMPRE tem mais de um. E também aprendi que eu dou muita importância aos problemas e que eles não seriam tão grandes se eu não os fizesse assim. É... nevoeiro é nuvem. Só uma nuvem, Charlie.

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